quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Tenho 32, 3, 2, 1...

Tenho 32 e, quando meus dedos dos pés tocam a areia, tenho 4. Tenho 32 e, quando minhas mãos encostam na terra úmida, parece que não tenho mais de 7. E quando estou na casa dos meus pais e minha mãe manda eu tomar banho? Continuo com 32, mesmo ela me olhando com 8. Ainda nesse lugar, quando meu pai insiste em me levar ao trabalho, tenho algo entre os 4 e os 10. Meu irmão ainda me caçoa e minha irmã acredita que precisa me proteger... acreditam que não passei dos 9. Quando tomo sol ou corro, fico rubra e com uns 10 anos. Quando encontro alguém um tanto incompatível a mim e o assunto morre, fico ainda mais corada e me sinto com 11. Quando canto e danço, volto aos 5; mas, se é forró, vou aos 14. Às vezes, vejo tanto a mudar e tenho o grito dos 15. Quando coloco o violão no colo e tento - só tento - tocar Engenheiros, acho que tenho 18. Quando olho com encanto meu marido, com certeza tenho 16 ou 21, 22, 23, 24 e assim por diante. Quando tenho uma nova experiência, um desafio... ai, meus 20 e poucos. Eu não deixei de ser quem fui e não estou sempre a mesma. Vivo a impermanência e o continuum, tão satisfatório e cheio, vazio e desejando mais. E vem... vai... vem... vai... 

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