sábado, 22 de dezembro de 2018

Minha primeira oração

Diga o que quer de (para) mim; eu não sei. Mas eu sinto que não é mais o mesmo. Sinto tudo tão novo como livro que se abre e as páginas ainda se grudam, e que guarda em cada página - sem marcas de dedos ou dobras - uma descoberta.
Eu me sinto, de novo e de novo, no lugar onde minhas mãos ainda eram pequenas; porém, sinto de forma diferente: não tenho mais (tanto) medo das ondas ou de não alcançar o fundo com os pés, não tenho vergonha de cantar ou dançar acompanhando a música, já sei que não posso tudo mesmo podendo muito, já sei que (que bom!) não sei de tudo.
Agora, estou a dançar e a cantar embaixo das ondas. Um pouco de pavor, outro de alegria, e um tanto de esperança me enchem.
Neste momento, peço: se já chega a hora de voltar a algum ponto da superfície, aponta a direção.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Tela

O céu me encanta.
De manhã, ele esquenta e se abre,
Pinta várias cores até se tornar azul.
No fim do dia, suas cores se mesclam.
Num minuto, está azul;
Noutro, amarelo;
Laranja;
Rosa;
Roxo.
O céu é uma transição linda.
Todo dia, ele se encerra,
Nos acolhe,
Nos recomeça.

domingo, 18 de novembro de 2018

Meu encontro

Perdi seu olho na multidão e me perguntei:
- Quem eu sou sem você?
Lembrei do amigo que morreu quando não achou mais a mão da amada. Para ele, havia mais nada, não havia mais mundos, mais vidas. E ela também morreu.
Assustei.
- Deus! Quem eu sou sem você?

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Foto aleatória em 09/10/18, às 22:17.

(ou sobre a serenidade)

Eu disse há quase dois anos: deixe que a serenidade chegue.
Mal sabia o furacão que viria pra nós.
E, hoje, olhar pro céu em gratidão é o automático.

Eu vinha de um fim período duro de transições do início da vida adulta e acreditava que o mundo passaria a ser sereno, e que, assim, eu conseguiria sonhar.

Mas só agora - depois do furacão, é que os sonhos habitam a nossa cabeça.

Lembro tão vivo agora o que escrevi há cerca de 8 anos:

 é lindo ver a vida pintada em mim à muitas mãos e com muitas cores. aos poucos, rabiscos e riscos. afinal, que vida há sem os tais riscos e as tais cores? aos poucos aprendo ou ensino, desaprendo ou desensino, a mim ou a outros... e é tão lindo e angustiante viver: criar asas, recriar ninhos, ver o céu. e se o céu é de um tamanhão sem igual? que bom! esse é um tamanho de vida, um tanto de possibilidade!

domingo, 9 de setembro de 2018

Lua Nova

Hoje a noite parece sem luz,
Mas ela está bem ali,
Pronta pra renascer.
Vem, lua.

Renova,
Cresce.
Clareia,
Guarda-se.

Mostra sua razão:
Maré,
Mulher,
Mundo.

Tudo parece ter
O seu tempo.

domingo, 19 de agosto de 2018

Alma Amarela

Brilhou logo pela manhã,
Trouxe luz e calor...
Ora num suave abraço,
Ora num raio tão forte,
Tão certo.

Fez a semente brotar,
A árvore crescer.
Fez os meninos
Saírem pra brincar
E os adultos sorrirem.

Renovou-nos,
Dourou-nos,
Marcou a nossa pele,
E voltará para o céu,
Pois sempre foi dele.

Mas, Sol,
Você continuará
A brilhar
Por aqui,
Sempre conosco.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Diáspora

Vontade de jogar tudo fora; abrir caminho. Fazer caminhar o que já não é meu, deixar ir o que foi pesado, jogar fora o que não tem mais função.

Prescrição

Massagear a cicatriz até que pareça mais amena, que não repuxe tanto, e que não limite antigos e novos movimentos.

Ainda seis de abril

Tem dias que eu só queria deitar minha cabeça no seu colo e chorar até o peito secar. E, assim, poder recomeçar. Mas ainda é Lua Cheia, meus sentidos estão aguçados e a casa bagunçada. Ainda tenho que ofertar meu colo, meus braços, meu ouvido e minhas mãos a outrem.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sonhadora

Lembro dos passarinhos na gaiola e da prisão deles me doer. Questionava que eles eram mais bonitos voando. Não entendia quando os cortavam as asas só para que eles ficassem bem próximos o tempo todo. Por que estimar assim? Por que cativar assim? E eles seguiam a se enfileirar na parede. Passeios faziam ainda presos. E ninguém questionava, porque uma anilha justificava sua prisão. Como pode alguém definir que vida se pode prender? Mas os meninos todos da rua conversam sobre e competiam a beleza e o cantar dos seus bichinhos. E eles nem nome tinham! Ficavam esquecidos na maior parte do tempo. Só eram lembrados no comer, no beber e no momento de serem exibidos. Só ganhavam destaque se fugiam. Aí, a tática era atraí-los de volta. No açalpão, repentina e assustadoramente, prendê-los novamente. Eles se batiam tanto, as asas nem se viam, viravam beija-flores até o cansaço chegar. Com o coração ainda bem ritmado, uma mão os apertava e eram carregados à gaiola. Parece que por gratidão a um espaço um pouco maior e esporádicos passeios, voltavam a cantar. Ou por esperança. Ou por resistência.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Meditação

"Quando a gente fica em frente ao mar, a gente se sente melhor." 
Nando Reis

O cheiro do chá de hortelã.
O calor da bebida que abraça.
O barulho da onda contra a areia.
A dança da andorinha no ar.
O vento que gela os braços.
Sentir.
Aqui.
Agora.

domingo, 13 de maio de 2018

Calmaria

Eu
Acordei com o cheiro do mar,
Com as plantas
Que me pediam
Pra ficar lá fora.

Elas me diziam:
Já é sol!
E o mar,
Baixo como nunca esteve,
Me disse que as coisas
Tinham mudado.

Ele dizia
Que o temporal
tinha passado.

Não havia mais
Tempestade,
Enchente,
Mar revolto.

Hoje
É dia
De
Calmaria.

É dia de dizer
Pra gente mesmo
Que passou e que
"tá tudo bem".

sábado, 31 de março de 2018

Oportuna data

A gente nasce, recebe, cresce, constrói-se, doa, faz crescer, constrói, algo nos chama a um novo nascimento, a gente transita, vai embora, e recomeça. Tudo importa. Tudo passa.  E, pra isso, há um tempo. Pro desejo, arquitetura e paciência.

sábado, 17 de março de 2018

Copo

Nós nos enchemos pra tentar sentir leveza, porque o vazio nos parece pesado.

Nós temos medo de encontrar com o vazio, porque o vazio pode nos trazer o novo.

Nós nos assustamos com o novo, porque achamos que não vamos conseguir ancorar.

Nós insistimos no velho porto, porque não sabemos vagar nosso espaço.

Nós esquecemos o quanto que vagar é bom, porque receamos nos perder.

A gente se perde assim mesmo, percebe-se esvaziado de sentido. E a gente se enche do que já não é nosso.


Pos Scriptum: Leia a partir de qualquer parágrafo. E siga. E volte. Volte e volte até que perceba que é melhor pausar, deixar de fluir assim e escrever algo diferente.

mar

Quando meus pés conseguiram fluir para longe da areia, senti minha expansão.

Meu peito se abriu.

sexta-feira, 16 de março de 2018

CARAPAÇA

Sinto-me morrer.
Não por mau destino,
Mas morrer.

Sinto-me morrer
E me encobrir,
Endurecer,
Esconder-me,
Criar espinhos.

E tenho medo
Da dureza,
Das defesas.
Porém,
Sei das suas passagens.

Ficarei bem.
Reabrirei.

Compasso

O tempo faz voltas em torno de mim.
Os passos se automatizam.
O fazer se torna centro.
Meu eu é centrifugado.

Por um instante, paro.
Penso:
Agora é preciso;
Isso também passa.

Eu voltarei
Apesar das voltas
E voltas.
Volto.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

01/01

Se a gente não olhar pras pequenezas, não adianta sonhar com o grande. Não haverá alegria, só ânsia. Mas, se houver gratidão, a vida trará motivação pra sorrir e você também poderá construir o que faça seguir e arquitetar mais degraus. Também haverá o que chorar com certeza. Haverá feridas. E cicatrizará se tudo correr bem - mesmo que demore. E virão mais pequenezas, mais caminhos.