segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sonhadora

Lembro dos passarinhos na gaiola e da prisão deles me doer. Questionava que eles eram mais bonitos voando. Não entendia quando os cortavam as asas só para que eles ficassem bem próximos o tempo todo. Por que estimar assim? Por que cativar assim? E eles seguiam a se enfileirar na parede. Passeios faziam ainda presos. E ninguém questionava, porque uma anilha justificava sua prisão. Como pode alguém definir que vida se pode prender? Mas os meninos todos da rua conversam sobre e competiam a beleza e o cantar dos seus bichinhos. E eles nem nome tinham! Ficavam esquecidos na maior parte do tempo. Só eram lembrados no comer, no beber e no momento de serem exibidos. Só ganhavam destaque se fugiam. Aí, a tática era atraí-los de volta. No açalpão, repentina e assustadoramente, prendê-los novamente. Eles se batiam tanto, as asas nem se viam, viravam beija-flores até o cansaço chegar. Com o coração ainda bem ritmado, uma mão os apertava e eram carregados à gaiola. Parece que por gratidão a um espaço um pouco maior e esporádicos passeios, voltavam a cantar. Ou por esperança. Ou por resistência.

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