terça-feira, 22 de maio de 2012
O esquecimento do ócio
Macarrão instantâneo. Micro-ondas.
E-mail. Fast-food. Câmera digital. O tempo. Cada vez mais fazemos tudo em menos
tempo e temos menos tempo. Matematicamente, isso parece impossível, mas quando
passamos a observar a esfera sócio-econômico-cultural começamos a suspeitar os
porquês. Nossa vida está a cada dia mais agitada, temos que ser os mais rápidos e
os mais completos! Temos que reproduzir-reproduzir-reproduzir-reproduzir... o mais
rápido que pudermos. Não há tempo para a preguiça, para reflexão
despretensiosa, para a criação. Imagino meus avós plantando,
colhendo, preparando, cozinhando... tudo em um longo processo. Uma pitada aqui,
um carinho ali e, depois de muito tempo, tinham a mesa cheia de criação: Bolos,
compotas, queijos. Agora, em vez disso, temos: miojo, molho de tomate e
minichicken. Dez minutos e temos comida. Comida automática, feita sem pensar, sem
sentir. Onde está a prova do tempero? Onde está a apreensão de que o molho não
irá empelotar? Onde estão as estratégias criadas durante todo o processo para
que o produto seja aprovado por quem experimentará? E a gente passa uma vida
toda no “Automático”. Não paramos... não paramos! Quantas pessoas já ouviram a
seguinte frase: O que você faz de meia-noite às seis? Bem... não sei você, mas
eu durmo, danço, namoro, bebo, escrevo textos como este. Tudo, menos trabalho.
Que porra é essa de não podermos utilizar o nosso tempo de descanso para
descanso? Esquecemos que a “Eureka” de
Arquimedes veio da banheira, da observação despretensiosa do fenômeno. Esquecemos
até dos nossos próprios insights ao tomar banho, andar de bicicleta, caminhar calmamente
pela rua, olhar para o horizonte. Às vezes, não percebemos que precisamos de
tempo para a maturação e florescimento das ideias. Que o sentir aliado ao pensar
(ou talvez sendo esses um só) pode ser uma arma eficaz para a qualidade.Nem sempre termos a nossa vida
em linha de produção é bacana. Tem coisas que não dá para ser em série. Se não,
acabamos por viver repetição, voltas-e-voltas, adoecimento. E, se não há ócio,
a criação se torna inviável, o viver não é viver. Então, por que não valorizar
o ócio?
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